texto crítico #16, 2021

Filme de Moleque

Crítica de Perdi o Controle (2021), de Sidnei Santos Martins Junior e Leonardo Althoff Pelegrin

por Felipe Feitosa

É inegável que a juventude aspirante à carreira intelectual ou artística sempre tende de alguma forma à seriedade. Quando digo isso não me excluo desta generalização. A gente sempre quer dizer algo importante, marcar as pessoas, emocionar alguém ou coisas do tipo. Infelizmente, esse desejo tão intenso pela notoriedade do discurso pode vir a nos limitar em alguns sentidos. Principalmente na capacidade de lembrar o quão imbecis nós podemos ser.

O imaginário que embrulha a palavra “universitário” geralmente é carregado de alguns preconceitos que, no geral, envolvem questões como: o vanguardismo, o eruditismo, o academicismo e outras coisas relacionadas à intelectualidade. A questão aqui é que eu, também envolto destes pressupostos mais genéricos, me preparei para encontrar no festival o cinema de experimentação, o drama social, documentários de denúncia e etc., mas não pensei na possibilidade de me deparar com os três patetas. Perdi o Controle, de Sidnei Santos e Leonardo Althoff, é um curta que me pegou de surpresa dentro do Metrô 2021.

Após ver alguns filmes mais “sérios” – que no geral buscavam lidar de um jeito particular e original com a linguagem cinematográfica – chegar nesta comédia juvenil, de referências mais clássicas, foi uma rasteira e tanto. É uma obra que acaba transbordando um pouco um espírito mais despretensioso do fazer cinematográfico – que não está preocupado com grandes temáticas ou com uma experimentação linguística. Acaba sendo cheio de um sentimento que tende um pouco para os generalismos da juventude aos quais, em maioria esmagadora, nós universitários pertencemos.

Eu me lembro de meu pai dizer que mesmo com vinte anos eu ainda seria adolescente – um jovem adulto não deixou de ser adolescente? Entrar na Universidade pode ser sinônimo de começar a lidar com uma grande quantidade de responsabilidades, mas isso não significa que a gente perde esse lado mais tolo. É por isso que, ao meu ver, Perdi o Controle funciona tão bem. É um filme que assume a dimensão manceba de seus realizadores e acaba sendo muito divertido.

Uma trama simples: quando três amigos perdem um lance importante de uma partida de futebol, começa uma busca incessante pelo controle da televisão. É uma obra que remonta um pouco as comédias burlescas, a um humor mais físico que brinca com certos absurdos e procura sempre o riso no fim de cada cena. Não diria que é um filme livre de imperfeições – pelo contrário –, mas estas me parecem se perder nessa empolgação que transborda os intérpretes. Aqui, cineastas e atores se misturam e é, talvez, por esse apego visível que eles têm ao projeto que eu acabo me deixando levar pelas tiradas cômicas que eles decidem criar.

As coisas que acontecem em cena são meio bestas, sem pé nem cabeça. Às vezes nem conseguem se estruturar bem como piada, mas a própria dimensão cômica do que eles estão se propondo a fazer ajuda o filme a se sustentar e se manter longe, pelo menos para mim, do desgosto. Obviamente, isso diz mais sobre quem vos escreve. Tenho que ser sincero com você, leitor – não me sinto tão instigado a falar sobre os problemas que tive com o filme quanto estou mobilizado a compartilhar esse sentimento que me embala. É uma obra sincera. Fica visível certas limitações que envolvem a produção e é divertido ver o que esses realizadores fizeram com o que estava ao alcance deles. Poderíamos dizer que é um filme de apartamento: tenta fruir com as possibilidades que este espaço proporciona; se esforça para satirizar com algumas banalidades cotidianas; e apela um pouco pro espectador entrar na brincadeira. Para mim, particularmente, foi contagiante. Talvez, se você se deixar levar por dois fãs de futebol, um maconheiro e um pombo, você veja a mesma graça que eu vi no filme. Caso isso não aconteça, bola pra frente.