Live do Metrô

MUNDO ABERTO
Uma conversa com André Novais Oliveira e Gabriel Martins sobre a trajetória dos curtas aos longas.

com
André Novais Oliveira
Nascido em Belo Horizonte. É diretor e roteirista. Dirigiu os curtas Fantasmas, Pouco mais de um mês e Quintal e os longas Ela volta na quinta e Temporada. Junto com Gabriel Martins, Maurílio Martins e Thiago Macêdo Correia, é sócio da produtora mineira Filmes de Plástico.

Gabriel Martins
Nascido em Belo Horizonte e radicado na periferia de Contagem, graduou-se na Escola Livre de Cinema/BH e em Comunicação Social com Habilitação em Cinema e Vídeo, em 2010, no Centro Universitário UNA. É sócio fundador da produtora Filmes de Plástico, junto a André Novais Oliveira, Maurílio Martins e Thiago Macêdo Correia. Dentre os seus principais trabalhos como diretor estão os curtas “Rapsódia para o Homem Negro”, “Nada” e o longa-metragem “No Coração do Mundo” (codirigido por Maurilio Martins).

mediação: Christopher Faust e Wellington Sari


DEBATES SESSÕES

A Morte Branca do Feiticeiro Negro (Florianópolis/SC), de Rodrigo Ribeiro | 2020 | 10′ | UNISUL/Cinema
Um Passeio por Campinas dia 29 de abril de 2020 (Campinas/SP), de André Quevedo Pacheco | 2020 | 7′ | USP/Audiovisual
Vídeo Engolido (Curitiba/PR), de Isa Melo | 2020 | 2′ | UNESPAR/Cinema
Amamentando Morcegos (São Paulo/SP), de Gabriel Gomes | 2019 | 15′ | AIC/Filmworks
EXOCONTROLE, 2020 (Uberlândia/MG), de Keyme Gomes Lourenço e Thaís Barros Pimenta | 2020 | 5′ | UFU/Mestrado em Educação

IMAGENS DOMÉSTICAS

A imagem como um enigma semelhante àquele com o qual se deparavam os andarilhos que se aventuravam por Tebas. Relata o mito grego que a esfinge observava os passantes e os desafiava com um enigma. A frase é bastante conhecida: “decifra-me ou te devoro”. A primeira sessão do Metrô 2020 indica pelo menos duas atitudes iniciais, que se complementam ao fim, diante da esfinge, se os realizadores e realizadoras possam ser tratados analogamente como viajantes de Tebas. Uma delas é analítica. Seja apontando a câmera para o real ou a ponta da flecha do cursor para os campos de buscas dos bancos de arquivos digitais, alguns filmes tentarão compreender as imagens por meio do processo intelectual. Outras obras serão mais esfinges que a esfinge e devorarão o enigma com saudável desejo glutão. Mão no queixo e caminhar de lá pra cá, mão contra a barriga em movimentos circulares, o fato é que ambas posturas se darão as mãos ao final.

A sessão Imagens Domésticas insinua que uma das formas para se compreender as imagens bestiais que o mundo material de 2020 produz é por meio de um sistema análogo ao da ruminação. Devorar o arquivo, devorar o agora, mastigar, devorar de novo, processar, absorver. Por fim, num gesto político fundamental, cuspir na cara do presente – mais do que nunca assombrado pelo obscuro passado – com ímpeto, nojo ou divertida petulância.

Wellington Sari


Projeção (Santos/SP), de Thomas Aguina | 2019 | 17′ | São Judas Campus Unimonte/Cinema
Um Filme de Ricardo (Curitiba/PR), de Rafael Neri | 2020 | 3′ | UNESPAR/Cinema
Distorção (Natal/RN), de Davi Revoredo e Paula Pardillos | 2020 | 15′ | UFRN/Especialização em Documentário
Domesticated Nights (Curitiba/PR), de Lívia Zafanelli | 2020 | 26′ | UNESPAR/Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo

DÉJÀ-VU

Na primeira sessão do Metrô 2020, propomos filmes que devoram o arquivo e a matéria-presente. A sessão Déjà Vu apresenta um desdobramento da atitude dos realizadores e realizadoras frente ao arcano imagético. Os curtas-metragens aqui exibidos creem amplamente no aparato e na técnica como forma de dominar a imagem. De que maneira a imagem retirada do ambiente selvagem, da natureza, se comporta quando domesticada pela técnica cinematográfica? A imagem do outro, mancha, borrão, sintoma, o que revela quando atravessa a porta do lar, e é posta sob o abrigo das convenções do cinema de gênero?

Domestica-me ou te devoro, diria a provocativa esfinge. Desafio aceito, os filmes da sessão usam os mais diversos truques para apaziguar a besta. Pela natureza dos curtas-metragens, é possível aferir que apesar do novelo de lã e a tigelinha de leite, a imagem-gato, de correntinha ao redor do pescoço com coração escrito “Allan Poe”, tem vontade própria. E, pior ainda, elas, as imagens-gato-Allan-Poe, sempre retornam. Sempre.

Wellington Sari


P4 (Brasília/DF), de Layo Stambassi | 2020 | 17′ | UnB/Audiovisual
Teiko (Curitiba/PR), de Hugo Junqueira | 2020 | 9′ | UNICURITIBA/Design de Animação
O Último dos Rolês (Florianópolis/SC), de os últimos românticos | 2019 | 7′ | UFSC/Letras
72 Dias com Pedro (Goiânia/GO), de Victoria Edwiges | 2020 | 22′ | Espaço Kino/Curso de Cinema – Realização de Curta-metragem

TRADIÇÃO

Enquanto as tendências e as modas nascem e morrem tão logo quanto surgiram, a tradição permanece. Não imutável, certamente. Dentro de sua morosa evolução, a tradição digere alguns traços das modas de cada tempo e segue pelo oceano da cultura como um transatlântico difícil de mudar de direção.
A ressaca de cada moda deixa marcas que o presente prefere esquecer, o cafona, o brega. Porém, a cada releitura da história o “ruim” vira cult, e a moda se refaz através de gestos políticos, as vezes um pouco com amnésia, as vezes um pouco arbitrária. Incorporada e resgatada pela tradição, a moda passada perde seu valor de urgência e se recompõe através da nostalgia.
A terceira sessão do Metrô propõe um cruzeiro por esse transatlântico de tradições. A nostalgia da modernidade, a busca pela dramaturgia, o desejo de reproduzir o gênero. Sim o gênero, a pedra angular da história do cinema, tão antinatural à cinematografia brasileira, ao mesmo tempo sagrado em sua liturgia e profano em sua vulgaridade, nessa sessão serve como molde, como alimento e como vício.

Evandro Scorsin


Ratoeira (Palhoça/SC), de Carlos Adelino | 2020 | 10′ | UNISUL/Cinema
Eu Tinha Alguma Coisa Para Te Falar (Curitiba/PR), de Fabiana Pimentel | 2020 | 10′ | Hollywood Film Academy/Filmmaker
Pátria (Fortaleza/CE), de Lívia Costa e Sunny Maia | 2020 | 7′ | Vila das Artes/Audiovisual
Mamãe Tem um Demônio (São Paulo/SP), de Demerson Souza | 2020 | 25′ | Anhembi Morumbi/Cinema

OBSOLESCÊNCIA

Embelezando cadáveres em fotografias pós-mortem, a força vampírica do cinema, como um Nosferatu, suga o presente e o condena a eternidade. Um presente até então cheio de urgência, mas também carregado de história e passado. O velho vira o novo para se tornar velho para virar novo. O que faz um vir depois do outro além do tempo?

Em 2020 voltamos a amar as texturas do VHS e tomados pela amnésia, esquecemos um pouco de nossa história e todas as revoluções que o século 20 viveu. Cinema de protesto, texturas démodé, ideias anacrônicas. Os filmes dessa sessão reviram as imagens mofadas do Brasil, a melancolia de um mundo feito de carcaças e a iconografia putrefata da TV. Se na sessão anterior navegávamos junto ao transatlântico das tradições, aqui vagamos como moribundos nos escombros de um presente condenado a arrastar as pesadas correntes de modas ultrapassadas e a repetir o passado. Uma sessão dedicada aos mortos que se recusam a descansar em um caixão.

Evandro Scorsin


Dinossaurite (São Leopoldo/RS), de Rafael de Campos | 2020 | 12′ | UNISINOS/Realização Audiovisual
Não Acredito no Inferno (Pelotas/RS), de André Berzagui | 2020 | 11′ | UFPEL/Cinema
Não é Mesmo, Flavinha? (Goiânia/GO), de Lara Carvalho | 2020 | 3′ | UEG/Cinema e Audiovisual
Letícia, Monte Bonito, 04 (Pelotas/RS), de Julia Regis | 2020 | 20′ | UFPel/Cinema

IMAGENS PRIVADAS

Como conviver e entender o próximo? Para conhecer a si mesmo, é preciso enxergar e se relacionar com o seu redor. A sessão Imagens Privadas, a partir de relações humanas muito próximas, vai da loucura à paixão.

O país da fake news (um dos) é um país que continua a replicar os mais absurdos tipos de abuso. O Brasil tem o conservadorismo no seu DNA, por isso não avança, dá voltas e até flerta reviver seus tempos mais tenebrosos.

Mas essa sessão – e esse festival – não é (só) lamento, buscamos também alento para os malucos anos 2020. Vamos olhar pela janela, atento a observar os sons da rua – e dos áudios de whatsapp -, a ouvir as histórias do passado e também se permitir amar numa tarde nostálgica de sol após gritos na frente do ventilador. Também há amor no caos.

Christopher Faust


Copacabana Madureira (Rio de Janeiro/RJ), de Leonardo Martinelli | 2019 | 18′ | UNESA/Cinema
Maresia (Belo Horizonte/MG), de Caio Scovino e Gustavo Koncht | 2020 | 3′ | PUC-MG/Cinema
Corpos (Belo Horizonte/MG), de Beatriz Xavier | 2020 | 6′ | PUC-MG/Cinema e Audiovisual
Tamanho 34 (Rio de Janeiro/RJ), de Gabriela Niskier e Manoela Paixão | 2020 | 24′ | AIC/Filmworks

FELIZ ANO VELHO

Com quantos memes se constrói um documentário? Ou o que é meme-smo um documentário? Na sessão Feliz Ano Velho talvez tenhamos uma sequência de ficções documentais e documentários ficcionais que borram as fronteiras, atenção, entre a realidade e a internet. Morre o Cinema Direto e o Cinema Verdade, nascem o cinema stories e o cinememe. Exagero retórico, claro; morrem apenas nessa sessão, para renascer ao fim do dia.

O real pinçado na internet, ou o real visto através da janela da pandemia e da rede social tenta dar conta da complicada situação: pela primeira vez na história a humanidade enfrenta um vírus que ataca simultaneamente a rede e o real, fazendo da aglomeração um risco potencial tanto no Boteco do Timão quanto na timeline.

O que se fez com o próprio corpo durante a quarentena, ou, também, o que se fazia com o corpo antes da aparição do Covid-19 são questões que agitam alguns dos curtas aqui exibidos.

Wellington Sari


Aréola (Belo Horizonte/MG), de Malu Tamietti | 2020 | 16′ | UNA/Cinema
Preâmbulo Para Amar a Rua (Curitiba/PR), de Oda Rodrigues | 2019 | 6′ | UNESPAR/Mestrado em Artes
Onde a Fé Tem Nos Levado (São Cristóvão/SE), de Neto Astério | 2020 | 18′ | UFS/Cinema
Ainda Somos os Mesmos nas Memórias do Passado (Rio de Janeiro/RJ), de João Folha | 2020 | 10′ | UFF/Turismo
Acho Que (Florianópolis/SC), de Bianca Pirmez | 2020 | 5’| UNISUL/Cinema

PROJEÇÃO

Um festival de cinema não termina em si mesmo, isso seria uma tremenda injustiça com a arte e com os filmes exibidos. Por isso, a última sessão do Metrô aponta e projeta o futuro, enquanto imagem e ficção, ao mesmo tempo em que busca formas a compreender o passado.

Certa tradição do cinema brasileiro está presente aqui, ressignificada pela pandemia, almejando e valorizando o caminhar na rua e questionando o que faz a fé ao brasileiro. Há também os dramas jovens, cheio de incertezas e de achismos, mas que busca vida e anseia viver. E se nas imagens do passado encontramos poesia e mensagens de ânimo ao presente, as imagens do presente tentam respostas nos rostos filmados em uma tela de computador riscada.

É uma sessão plural, que busca dar conta da diversidade dos excelentes filmes (selecionados ou não) que o Metrô recebeu em sua 4ª edição. Nessa seleção de 30 curtas, tentamos valorizar a bravura de uma grande turma de estudantes, que na contramão de muitas coisas, estuda e produz imagens neste Brasil de 2020.

Christopher Faust


Cataclisma! A Chorumex ataca novamente e toma o festival!! Dessa vez com um longa-metragem dirigido por Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra.

Sinopse

São os pré anos 3000.
arte é crime.
refletir é proibido.
Ler não existe mais.
Somente produções e consumos em massa são permitidos.

RODSON®. Um garoto com seu animalesco instinto artístico represso pela sociedade ao seu redor, só mais um de muitos…

O governo anarcocrenty comete o engano de achar que a besta estivera sob controle, mas sua mente concebe CALEB® o alterego de RODSON@ que o lança estrada a fora, abandonando ares-condicionados em busca da alucinação perfeita sob o Sol sem dó de 2000°C que a última camada de exosfera proporciona a vigente sociedade.