Premiados

A cerimônia de gala que encerra o festival anunciará os filmes premiados pelo Júri Oficial e pelo Júri Universitário, e também o melhor projeto do MetrôLab. Estes receberão nosso já tradicional TROFÉU PASSAGEM, criado e renovado anualmente por Glauco Tyradentes.

confira a live de premiação!

>> Confira o Júri desta edição


Troféu passagem 2020

sobre o criador do troféu:
Glauco Tyradentes
Precoce, Glauco Tyradentes reproduziu o teto da Capela Sistina no próprio ciso inferior esquerdo aos 11 anos. É um dos maiores artistas brasileiros desde Camão e dos irmãos Camões.

“Glauco Tyradentes, artista plástico e dono da Sacolas Limitadas, empresa que não fabrica, distribui ou fornece este tipo de material para qualquer estabelcimento do Brasil, por acreditar que um cliente de supermercado, por exemplo, pode muito bem levar de casa a própria bolsa reutilizável ao invés de colocar cada comprinha em uma sacola de plástico diferente, gerando ainda mais lixo para o meio ambiente, está triste. Glauco está triste porque planejava desde o ano passado a presença no palco da edição 2020, para entregar o troféu ao pessoal. Reviravolta no mundo e o quarto Metrô acontece online. Triste, mas não acabado: Glauco preparou um presentão, naquela que talvez seja a mais complexa e pulsante obra do artista responsável pela concepção do Troféu Passagem de todas as edições do Metrô até agora. É, inclusive, a primeira e última obra em língua inglesa por parte de Ty. Nas palavras do artista: “Em 2020 toda pessoa é campeã. O troféu do Metrô 2020 é o gif aí da minha mini-biografia. Quem quiser se autopresentear com um prêmio, é só baixar a imagem e guardar numa pasta denominada “gifs-bons2020″. Glauco disse, também, que no ano que vem pretende abrir uma empresa de eco bags. Ou melhor, de sacos ecológicos”.


Filmes Premiados


A Morte Branca do Feiticeiro Negro é um filme envolvente que expõe um relato histórico. Áudio e imagens  propõem uma reflexão sobre um sentimento de subjetividade profunda, o Banzo. O filme reverbera uma dívida histórica, um trauma indigesto, com uma curadoria de imagens minuciosa e ritmo sinérgico. 

A utilização de imagens de arquivo provenientes da Caravana Thomaz Farkas faz com que se lance uma reflexão potente em torno de um mal atemporal. A textura dos arquivos lembra cascas de feridas, mas as feridas deste filme jamais fecharam; estão escancaradas, jorrando sangue das veias abertas. A camada sonora parece reverberar os incontáveis gritos como o da carta, históricos, desesperados, desesperadores. Paradoxalmente, a carta de suicídio de Timóteo surge silenciosa na legenda, que talha as imagens e pulsa do passado persistente ao presente. As imagens contemporâneas despontam como um mau agouro para um país que ainda lida pouco e mal com seu racismo e sadismo históricos.

Tal como na história, os rostos e faces daqueles retratados são anônimos, retirados de fotos antigas e que ganham uma corporalidade tão singular que se circunscreve um passado e um presente de uma memória. 

Não faz muito tempo era comum achar que o negro não tinha alma, que o negro era uma raça inferior. “Morte Branca do Feiticeiro Negro” é uma obra viva que nos avisa da herença colonial de um processo de embranquecimento no Brasil pré-república. A carta suicídio de Timoteo traz a força necessária às comunidades negras que a luta e resistência dos corpos negros ainda resistem.


A ideia sinestésica da imagem invadindo o cotidiano e os lares em meio a um isolamento entre caos e pânico, faz com que a atmosfera claustrofóbica se construa em torno de um único aparelho de televisão. Uma construção que é um jogo de duplos, uma linha tênue entre o universo real e o mero simulacro, a ilusão da realidade e a realidade da ilusão de uma dona de casa enclausurada. Há no filme um olhar preciso sobre uma realidade ou sua distorção, onde nada sobra e tudo fala. Uma crítica mordaz à política, mídia e seus meios e mensagens como eles se apresentam em nosso dia-a-dia, demonstram uma movimentação fluida e uma construção de tensão bastante particulares pelo uso da imagem e do som desalojados de uma continuidade real – deixando o espectador e a protagonista em uma atmosfera difusa de caos e paranoia.  

A arte está a serviço da história. Se a arte registra um momento – “pródiga e indiferente”, “Distorção” anuncia – já distorcida – um recorte real grifado do nosso tempo.


“O demônio são os outros”; “O demônio que habita em mim, saúda o demônio que habita você”. Quanta filosofia num filme que exorciza uma superstição da tv brasileira. Mamãe Tem Um Demônio tem a inventividade na história, partindo de lendas urbanas, que aludem à um contexto pop dos anos 80 e 90.  

Uma aura entre o sonho infantil, o escalafobético e a um programa de calouros, o filme com a heroína Tetê e seu vestido azul, a filha modelo e a mãe entrecortada por uma vida passada ruim, propõe uma estética desviante do que é feito atualmente: maximalismo em figurinos, atuações e intenções, uma não contenção de gestos. Pensar em Mamãe Tem Um Demônio como uma promessa (mesmo que seja ela uma promessa ao Diabo ou talvez a um programa de TV nos domingos em fim da tarde se a TV estiver em um universo distópico – o que não é ruim, ao contrário), é pensar em uma renovação no cinema universitário, fazendo com que o cinema de gênero universitário desponte como uma possibilidade no horizonte do cinema nacional.


Pela riqueza de elementos, tanto imagéticos quanto sonoros, e relevância do tema, propondo uma relação entre a situação sócio-política do Brasil contemporâneo e o passado, o presente e o possível futuro da cidade de Taquari (RS), bem como pela segurança na apresentação da narrativa e da proposta de direção, o júri do Pitching do MetrôLab 2020 premia o projeto GRAVE de Leonardo da Rosa.

Pela pertinência da proposta e pela objetividade na apresentação, o júri do MetrôLab 2020 concede uma menção honrosa ao projeto NA RAIZ, de Tiago Felipe.


Em primeiro lugar, nós do Júri Crítico, gostaríamos de agradecer a oportunidade e a experiência proporcionadas pelo Metrô – Festival do Cinema Universitário Brasileiro e aos seus organizadores, também ao Luiz Carlos de Oliveira Jr. pelas orientações dadas na oficina. Frente a uma conjuntura de crise sanitária por conta do COVID-19 que, por consequência, intensificou a crise política e econômica, não espanta que o Festival tenha contado com diversos filmes que buscam comentar este atual momento. Assistimos a outros tipos de filme, não necessariamente atuais, mas essenciais: filmes que voltam ao passado para que possamos lembrá-lo; filmes que projetam um futuro de modo a nos fazer entender o presente. Assistimos também à manutenção de certas tradições cinematográficas em filmes que lidam com gêneros já estabelecidos, dando a eles um ar de novidade.

Ainda nessa perspectiva, em tempos tão atípicos, o que mais chamou nossa atenção foi a reinvenção de métodos e linguagens para fazer cinema – o que, por si só, já é um reflexo do momento sócio histórico e um discurso político. A pandemia levou ao esforço criativo dos realizadores de contornar as restrições de filmagem e, assim, continuar produzindo, da mesma forma que o Festival não deixou de acontecer, realizando sua primeira edição online Nesse sentido, chamaram a nossa atenção os filmes que optaram pela reapropriação de imagens pré-existentes, de procedências muito diversas (fotografia still, memes, emojis, imagens de segurança, imagens de desktop etc), costuradas pela montagem.

Nesse contexto singular, em que a produção cinematográfica aos poucos se adapta às condições atuais e cujo desafio se torna criar imagens para além dos espaços do confinamento, destacam-se aqueles filmes que justamente, no sentido contrário, antes mesmo da pandemia, se propuseram a reflexão em torno dessas imagens do passado e como elas reverberam nas imagens que produzimos hoje. No resgate dessas imagens e sua ressignificação, está implícito um gesto político, uma vez que não é de hoje que a história

nacional, assim como a pesquisa acadêmica – vale mencionar uma vez que se trata de um festival universitário – é desvalorizada. O descaso com o passado é refletido na crise política, econômica e social que vivemos atualmente e no sequestro simbólico da memória audiovisual brasileira, com o recente fechamento da Cinemateca pelo Governo Federal.

O filme que gostaríamos de premiar, existe porque é preciso, no sentido amplo da palavra. Destacamos a sua maturidade na construção narrativa e estética, a complexidade da pesquisa – prática e teórica – que lhe deu origem, e a sensibilidade empreendida na tradução do racismo e do trauma colonial em linguagem, para além da sua representação e denúncia. A abordagem frontal da imagem e do texto materializam um cinema incômodo, poético e político. Trata-se de um resgate singular e necessário, na medida em que ecoa para além do quadro e reescreve em audiovisual a história de uma presença negra apagada pelas narrativas coloniais.

Também foi delegada a nós a responsabilidade de nomear o prêmio. Assim como o título deste filme faz referência ao livro de Renato Ortiz, nomeamos a premiação como “Atlântica”, em referência e homenagem ao pensamento de Maria Beatriz Nascimento, compilado por Alex Ratts, no livro Eu sou Atlântica. A historiadora e poeta negra Maria Beatriz Nascimento, apesar de não ter podido dar continuidade a sua pesquisa de mestrado, continua presente através de seus escritos – e do filme Ôri, de Raquel Gerber – que representam um ponto de fortificação tanto da pesquisa acadêmica em torno da história negra no país, quanto do cinema negro brasileiro que ganha mais um filme.

Por um cinema preto brasileiro universitário contemporâneo presente e futuro, o Prêmio Atlântica vai para ​A Morte Branca do Feiticeiro Negro,​ de Rodrigo Ribeiro.

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