Se a curadoria não for encarada também como um ato criativo, poderia ser mais apropriado encontrar outro nome para a atividade: selecionador, escolhedor, roleta, qualquer outra coisa do tipo. Exercer a curadoria não é o mesmo que checar se os filmes estão com bilhetes em mãos e aptos a embarcar. Vários fatores servem de passagem para o livre trânsito no circuito: prestígio assegurado por outros festivais, a capacidade de ser autêntico sem, de fato, deixar de ser idêntico (já se conhece, há muito, a lógica que rege o encadeamento das obras em festivais de cinema destinados à exibição de curtas-metragens; as sessões seguem certo fluxo temático ou formal e o excesso de obras singulares pode ameaçar essa unidade), entre outros. Mas, na tenebrosa Nova Era, é preciso ser o contracampo e reforçar a liberdade. A intenção desse texto não é ditar regras. Se alguém prefere a seleção à criação, não há problema algum – convém apenas que a escolha seja feita por meio da reflexão ao invés da adesão automática.
Para a terceira edição do Metrô, que só está de pé por conta do apoio inestimável das instituições cujos logotipos temos orgulho de estampar no material gráfico e online do festival, a nossa ideia de curadoria passa pela chama da criação, da faísca. Trabalhar sem receber cachê é um exercício de paixão, simples assim. Paixão pelos filmes e – não tentamos enganar ninguém – pela própria atividade, que reverbera no esforço conjunto de pessoas, nós três, os curadores, que se conhecem há bastante tempo. A curadoria é um ato constante de crise e paradoxo: ter o poder de escolher o que vai ser visto, ou, pior ainda, ter o poder de negar aquilo que poderia ser visto, é perturbador. Por outro lado, servir de alavanca para obras que apontam caminhos pouco explorados é bastante instigante – o que, em realidade, pode culminar também em algo cômodo, em vício frenético: transformar a curadoria em abertura de envelope de figurinha de álbum do campeonato brasileiro, na busca pela joia rara, pelo “Bebeto derrubando o bebê[1]”. Como equilibrar essas tensões? Como evitar que o “gosto” da curadoria seja uma medida para realizadores e público? O fator personalista estará sempre em jogo, mas garantimos que as regras são colocadas em xeque a todo momento. O resultado está na tela da terceira edição do Metrô. O que o instigante e diversificado conjunto de filmes diz sobre a curadoria? Esperamos que nada, ou muito pouco. Que a sala seja invadida pelas imagens e que o diálogo entre os filmes e o público aconteça das maneiras mais variadas possíveis. O resto é, no fundo, papo furado.
Christopher Faust, Evandro Scorsin, Wellington Sari
Curadores
[1] Lendária figurinha do álbum da copa do mundo de 1994. Para saber mais sobre o caso, acesse os episódios da primeira temporada do Metrô TV.
MOSTRA COMPETITIVA
95 piscadas por minuto (Cachoeira/BA), de Clara Chroma | 2019 | 4’ | UFRB/Cinema
Aguaceiro (Rio de Janeiro/RJ), de Roberta Amaro | 2019 | 16’ | ESPM Rio/Cinema
Amarelo-angústia (Curitiba/PR), de Rodrigo Tomita | 2019 | 1’ | Unespar/Cinema
As janelas que encontramos no caminho (São Paulo/SP), de Thaís Orchi Abdala | 2019 | 20’ | FAAP/Cinema
Capitais (Fortaleza/CE), de Kamilla Medeiros e Arthur Gadelha | 2018 | 11’ | Porto Iracema das Artes/Audiovisual
E o que a gente faz agora? (Cachoeira/BA), de Marina Pontes | 2019 | 16’ | UFRB/Cinema
Incumprimento (Curitiba/PR), de Gustavo Piaskoski | 2019 | 17′ | Centro Europeu/Cinema
Interferência (Curitiba/PR), de Gabriel Borges | 2019 | 7’ | Unespar/Cinema
Metanoia (Curitiba/PR), de Rayane Taguti, Giovana Bianconi, Rafaela Panchorra e Tiago Felipe | 2018 | 4’ | Unespar/Cinema
Napoleão na Ilha de Madalena (Curitiba/PR), de Samir Gid e Vitor F. Zannin | 2019 | 15’ | PUCPR/Publicidade e Propaganda
O fantasma de Glauber Rocha (Vitória da Conquista/BA), de L. H. Girarde | 2019 | 15’ | UESB/Cinema
O reflexo do abismo (Florianópolis/SC), de Rafael Minari | 2019 | 14’ | UFSC/Cinema
Permutável (Belo Horizonte/MG), de Renan Távora Soares | 2019 | 15’ | UNA/Cinema
Residencial Lamborghini (Florianópolis/SC), de Tiago Lima Cunha | 2018 | 12’ | Unisul/Cinema
Sábado não é dia de ir embora (Rio de Janeiro/RJ), de Luísa Giesteira | 2019 | 19′ | UFF/Cinema
Sobre raízes e asas (Curitiba/PR), de Leani Ferrari, Ana Vitória Miotto, Natália Moya, Murilo Caetano, Nathalia Mendes, Larissa Monteiro e Mariana Boaventura | 2018 | 14’ | Unespar/Cinema
Só sei que foi assim (Pelotas/RS), de Giovanna Muzel | 2018 | 7’ | UFPel/Cinema de Animação
Taoquei? (Salvador/BA), de Klaus Hastenreiter, Clara Ballena, Chris Mariani | 2018 | 10’ | UFBA/Artes Cênicas e B.I. em Artes
Vigia (Rio de Janeiro/RJ), de João Victor Borges | 2018 | 22’ | UFF/Cinema
Xanatopia (Salvador/BA), de Marina Lordelo e Laize Ricarte | 2019 | 20’ | UFBA/Produção Cultural
MOSTRA PANORAMA
3 bocejos (Capão da Canoa/RS), de Marina Schneider | 2019 | 6′ | UBI/Cinema
A cor do veneno (Curitiba/PR), de Maria Gabriela Goulart | 2019 | 3′ | Unespar/Cinema
Ana Cecília e Dona Sônia tentam fazer um jantar em família (Campinas/SP), de Elisa Lino e Giovanni Saluotto | 2019 | 5’ | Unicamp/Midialogia
Aonde a vaca vai? (Curitiba/PR), de Welyton Crestani e Evelyn Pedroso | 2019 | 7′ | IFPR/Produção de Áudio e Vídeo
Apesar dessa miragem eu não errei seu nome (Florianópolis/SC), de Victor Ávila | 2018 | 11′ | Unisul/Cinema
A última noite (Rio de Janeiro/RJ), de Pedro Dias Lemos | 2019 | 29′ | UFRJ/Rádio e TV
Bicha-bomba (Curitiba/PR), de Renan de Cillo | 2019 | 8′ | Unespar/Cinema
Cabeça de rua (Belo Horizonte/MG), de Angélica Lourenço | 2019 | 14′ | Escola Livre de Cinema
Carne de carnaval (Rio de Janeiro/RJ), de Rodrigo Tancredi | 2019 | 15′ | ESPM Rio/Cinema
Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno (Fortaleza/CE), de Leon Reis | 2018 | 19 | Vila das Artes/Cinema
Cetim rosa (São Paulo/SP), de Isabella Mello | 2019 | 15′ | FAAP/Cinema
Creative Labyrinth (Vitória/ES), de Luiz Will Gama | 2018 | 12’ | UFES/Artes Visuais
Dançar a Curitiba – O ritmo do Hip Hop (Curitiba/PR), de Rafaela Fernanda Aparecida Silva | 2019 | 4′ | PUCPR/Design Digital
F For Fake News (Curitiba/PR), de Edu Camargo | 2019 | 1′ | UFPR/Comunicação Social
Fractal (Curitiba/PR), de Isa Melo | 2019 | 2′ | Unespar/Cinema
Glicínia (Curitiba/PR), de Ju Choma | 2019 | 1′ | Unespar/Cinema
Linhas tortas (Curitiba/PR), de Flora Suzuki e Grazi Labrazca | 2019 | 7′ | Unespar/Cinema
Lyz Parayzo Artista do Fim do Mundo (Foz do Iguaçu/PR), de Fernando Santana | 2019 | 15′ | UNILA/Letras Artes e Mediação Cultural
MC Jess (Rio de Janeiro/RJ), de Carla Villa-Lobos | 2018 | 20′ | UFRJ/Comunicação Social
Na cozinha do ressentimento se prepara angústia (Curitiba/PR), de Gabriel Borges e Pedro Vilo | 2018 | 7’ | Unespar/Cinema
Nada acontece em Curitiba (PR), de Vitor Sawaf | 2019 | 15′ | Unespar/Cinema
Nada além da noite (Rio de Janeiro/RJ), de Rodrigo de Janeiro | 2019 | 20′ | UFRJ/Comunicação Social (Rádio e TV)
Náusea (Curitiba/PR), de Thomas Webber | 2019 | 12′ | Centro Europeu/Cinema
Ninguém precisa saber (Curitiba/PR), de Stefano Lopes | 2019 | 15′ | Unespar/Cinema
O cartunista (Curitiba/PR), de Rubens Dibernardi Junior | 2019 | 9′ | Unespar/Cinema
O lamento do oceano (Curitiba/PR), de Jorge Bueno | 2019 | 4′ | Unicuritiba/Design de Animação
O pombo (Curitiba/PR), de Gabriel Borges e Pedro Vilo | 2019 | 2′ | Unespar/Cinema
Outro tempo (Pelotas/RS), de Manu Zilveti | 2018 | 6′ | UFPel/Cinema
Pelano! (Salvador/BA), de Christina Mariani e Calebe Lopes | 2019 | 12′ | UFBA/Bacharelado Interdisciplinar com Concentração em Cinema
Quando queimei meu passado com você (Recife/PE), de Beatriz Stefano | 2019 | 12′ | UFPE/Cinema
Reminiscência (Curitiba/PR), de Marina Ariano e Rafael Neri | 2019 | 6′ | Unespar/Cinema
Ronda (São Paulo/SP), de Mauricio Battistuci e Francisco Miguez | 2019 | 25′ | ECA UPS/Audiovisual
Salve todos (Belo Horizonte/MG), de Isabela Renault | 2018 | 11’ | UNA/Cinema
styrofoam01.cos (Curitiba/PR), de Iury Peres Malucelli, Gabi Ferreira, João Gustavo Moreira, Gabriel Borges | 2019 | 3 | Unespar/Cinema
Vermelho 2019 (Belo Horizonte/MG), de André Castro | 2019 | 10′ | UNA/Cinema
LONGA METRAGEM
A Besta Pop (Belém/PA), de Artur Tadaiesky, Fillipe Rodrigues e Rafael B. Silva | 2018 | 81’ | UFPA/Cinema