texto crítico #07, 2020

Copacabana Madureira de Leonardo Martinelli

Festival Metrô Universitário – Sessão 25/9: Feliz Ano Velho

por Rodrigo Coelho

Com o festival próximo do fim, é possível perceber certas tendências da produção audiovisual universitária contemporânea. Os filmes de cada sessão passam a dialogar não apenas entre si, mas também com trabalhos apresentados nos dias anteriores. A apropriação da linguagem dos memes e das fake news; o “filme de desktop”; as relações assíncronas entre o som e a imagem; o mocumentário e o filme de dispositivo: obsessões estéticas que também estão espalhadas pelos filmes da sessão Feliz Ano Velho, a sexta do Festival Metrô.

Copacabana Madureira, de Leonardo Martinelli, se utiliza dos mais diversos recursos linguísticos cinematográficos para compor mosaicos das “guerras culturais” das redes e a intromissão delas na realidade social concreta. É um filme em que grotescas fake news que correram os “grupos de zap” na época das eleições podem se sobrepor imageticamente à iconografia cristã, um universo em que a Lacrimosa de Mozart e uma fala de Bolsonaro podem coexistir, não sem conflito. 

É a partir desse jogo de sobreposições audiovisuais que o curta desenvolve microcosmos que se bifurcam: dos apartamentos de classe média aos bares, praias, favelas e igrejas. Bifurcações tomadas por deboche e raiva, cujos alvos vão da direita bolsonarista à esquerda militante em redes sociais. É questionável, entretanto, se essa hipertrofia da vida social que o filme deseja criticar às vezes não é apenas reproduzida, com um tema sendo encandeado atrás do outro sem dar espaço de respiro para reflexão.

O filme seguinte da sessão se choca com Copacabana: se este se opta por um discurso ultra-acelerado, Maresia, de Caio Scovino e Gustavo Koncht, adota um registro mais próximo da contemplação. O mar, aqui, não é sobreposto a sons de tiroteio, mas aparece como espaço de afeto e melancolia, em um curta sobre o poder do tempo e da memória e o que perdemos no meio do caminho.

Corpos, dirigido por Beatriz Xavier, por sua vez assume uma representação em que se tensiona imagem e som, utilizados de modo assíncrono, mais para evidenciar o choque entre ideias opostas do que para apaziguá-las. No curta, a descoberta do corpo é sobreposta aos discursos sobre Bolsonaro: um caminho possível de resistência? Faz um diálogo forte com outros curtas do festival, como Exocontrole (sessão 1) e Pátria (sessão 4).

Nossa autoimagem também é uma questão que se faz presente no filme de encerramento da sessão, Tamanho 34, dirigido por Gabriela Niskier e Manoela Paixão (também as atrizes principais). Não só os corpos, mas como os filmamos e os representamos, seja no cinema ou nas redes sociais. 

Para isso, adere à estética dos mocumentários, se apropriando também de elementos das linguagens da publicidade e do videoclipe com um viés satírico. Somos absorvidos pelo universo da classe média carioca, das baladinhas top e dos “white people’s problems”, em um retrato que vai do deboche à empatia. Também dialoga com outros filmes do festival, como Amamentando Morcegos (sessão 1) e Um Filme de Ricardo (sessão 2), nos dando uma ideia dos possíveis caminhos do audiovisual brasileiro.