No curta-metragem dirigido e protagonizado por Nico Luna, a narrativa foca nas experiências de um corpo estrangeiro, explorando seus desejos e deslocamentos. O filme mistura ficção e realidade para abordar a movimentação desse corpo e seus encontros com o novo. A utilização de espanhol e portunhol enfatiza a transição entre fronteiras literais e simbólicas.
As cenas desafiam convenções ao usar formatos experimentais e edição provocativa. A nudez, central no filme, reflete sobre o olhar fetichista e a frustração de ser visto apenas como objeto de desejo. O curta também trata da vivência com HIV e como a sociedade marginaliza esse corpo. A repetição de cenas do cotidiano de Nico reforça o tema das fronteiras físicas e simbólicas.
O filme não se encaixa facilmente em categorias tradicionais como performance, documentário ou vídeo experimental. A fusão de registros documentais com cenas performáticas cria uma mistura única. Nico explora temas como solidão, angústia e o desafio de viver em culturas diferentes, questionando como seu corpo é percebido e julgado.
Nico se apresenta como protagonista de sua própria história, não como vítima. Ele questiona como o mundo lida com as diferenças e expõe várias formas de existência. A cena em que mostra seu ânus e pênis busca normalizar o corpo, destacando a humanidade comum a todos. A cena que dialoga em português sobre experiências sexuais com pessoas de fora também reflete essa busca por normalização e compreensão.
O filme questiona as barreiras sociais e convida o espectador a refletir sobre o significado de habitar um corpo HIV positivo e estrangeiro. Ele sugere que, mesmo conhecendo pessoas com HIV, nunca compreenderemos completamente a solidão e o isolamento que essas pessoas enfrentam, tanto no aspecto amoroso quanto no físico. A coragem de Nico em expor sua intimidade nas telas proporciona uma conexão profunda e uma reflexão sobre a experiência humana.