Impressões e relações com Página Três, por Patricia Ressurreição

O filme se destaca pelo protagonismo feminino e negro, centrando-se na história de uma mãe separada e suas duas filhas. A narrativa explora a intimidade entre as irmãs, exemplificada na cena em que Verônica, a mais velha, esconde uma camisinha enquanto conversa com Vanessa e a mãe, antes de se arrumar para o jantar e sair, sobre um incidente na escola. Vanessa, a irmã mais nova, percebe Verônica como um modelo a seguir, o que fica claro quando ela usa maquiagem na ausência da irmã. A figura do pai é mencionada, mas ele não aparece em cena, sublinhando a ausência paterna na dinâmica familiar.

O momento mais marcante do filme é quando a mãe abre uma caixa guardada com objetos e livros antigos, compartilhando com as filhas histórias de sua vida antes de se casar e se tornar mãe. Apesar de a cena sugerir uma conexão com o ato de ler, o filme indica que a leitura e a visita a bibliotecas são práticas do passado, o que é evidenciado pela quantidade limitada de livros na caixa. E esse mágico poderia ser uma oportunidade de trazer mais sobre os escritores/as negros já que estamos falando de um futuro próximo.

A escolha de O Pequeno Príncipe como referência literária pode parecer irônica ou aleatória, mas talvez tenha sido uma tentativa de evocar uma memória comum da infância. Mesmo assim, uma seleção de histórias que valorizassem a identidade negra poderia ter oferecido uma conexão mais autêntica com a realidade das personagens.

Por fim, o filme encerra com a mãe lendo O Pequeno Príncipe para a filha mais nova, enquanto Vanessa adormece em seu colo. Esse gesto simples e carinhoso, que pode parecer raro nos dias de hoje, reforça o valor de momentos de conexão íntima e afeto, lembrando-nos da importância de cultivar práticas familiares que fortalecem os laços entre pais e filhos.

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