O curta curitibano Ladeira Abaixo, de João Pedro Rodriguez, é uma comédia que dialoga com um tipo de humor que surge no início dos anos 2000, momento de produções de galera feitas para a internet ou, em caso raro, para a televisão, como o grupo Hermes e Renato. Nestas produções, muitas vezes existe a construção de um humor através de uma estética da trasheira, onde a suposta falta de cuidado na produção colabora para atingir certos efeitos imediatos.
Resultado de um trabalho obrigatório de curso, o filme se passa justamente na universidade, a transformando em uma espécie de purgatório onde figuras estereotipadas do imaginário que se tem de uma “federal” se vêem aprisionadas entre maconheiros, conservadores e professores exigentes. Especialmente o protagonista, que sai em uma jornada em busca de seu colega para apresentar o trabalho em aula antes do fim do prazo. É uma grande caricatura, que recorre de certa forma à uma identificação do público, especialmente o público jovem, em relação ao caos ansiogênico do espaço universitário.
Porém, se pensarmos mais a respeito dessa lógica do “tosco”, que aponta para algo feito sem cuidado, sem uma lapidação cuidadosa, permite muitas vezes uma estigmatização de produções realizadas com materiais precários, os reduzindo a uma obra mal acabada no sentido pejorativo, mesmo quando é com a melhor das intenções. Assim como algumas vezes é uma forma adotada para se isentar de uma responsabilidade de estruturar melhor alguns elementos, sendo uma saída que pode cair mesmo numa infantilização, não do público, mas de quem o realiza.
Nessa linha, o filme com certeza aposta em uma certa imaturidade, em não se levar a sério em nenhuma medida e, por conta disso, não querer se comprometer muito com o que pretende dizer. Na verdade, é como se o filme não quisesse dizer algo de fato, apenas desenvolver um série de planos um tanto expressionistas na forma como distorcem o espaço a partir do protagonista transtornado, utilizando muitos movimentos bruscos, deslizando a câmera perto do chão, explorando silhuetas e até mesmo brincando com o 3D. Existe ali um comprometimento em deixar fluir imagens que instantaneamente remetem aos eventos caóticos da vida universitária.
Sendo assim, mesmo que o filme não se leve a sério, é perceptível que existe uma pesquisa a respeito desse humor visual baseado na montagem e na falta de lógica dos eventos, que não chega a ser nonsense, mas sim situacional, um retrato de uma juventude que adora performar um certo niilismo mesmo que exista um comprometimento em cumprir o exercício proposto em aula.