A força da coletividade parece ser a tônica que move não apenas a segunda sessão da mostra competitiva, mas também a proposta de uma mostra de cinema universitário, que cria um ponto de encontro para diferentes equipes se encontrarem e trocarem ideias e apontarem para um rumo em comum. Os seis filmes desta sessão estabelecem muito este sentido de se comunicar com o fim de organizar uma comunidade, chamar pro rolê ou para a luta. O gesto político de aproximar grupos com interesses e necessidades em comum, criando uma rede que permite pular da reflexão para a ação.
A comunicação críptica das aves em A Cachoeira dos Pássaros cria uma lógica interna que não precisa necessariamente ser entendida por quem está fora desta turma de bichos para que se perceba que há ali um uma sugestão das reivindicações do coletivo para um mesmo ponto de foco. Cambiante também não difere muito disso, nos colocando em frente a um novo sentido, uma significação em deslocamento, propondo uma desorientação lúdica e paranoica ao mesmo tempo. É talvez o filme mais individualista da sessão, no sentido de comunicar uma interioridade que tenta superar o próprio corpo e chegar em novos lugares.
Pisca-Pisca e Próxima Parada, por sua vez, extrapolam a ideia do cinema reivindicatório para novas percepções. O primeiro sublinhando muito mais o sentido afetuoso de uma comunidade, que mistura família, vizinhos e colegas. A interação afetuosa que serve de base para o enfrentamento é um olhar que reforça a política como algo que permeia as relações e as linguagens em jogo na disputa pública. Seja no Amapá ou em Porto Alegre, de onde venho, observamos cada vez mais a privatização de serviços básicos afetar certos grupos sociais. Isso é visto também em Próxima Parada, um filme que faz um remix das paradas de ônibus, o transporte que carrega o “coletivo” no nome. A fragmentação entra aqui para desmembrar o deslocamento pela cidade e a maneira como ele afeta as formas de enxergar e acessar espaços.
Nesta dinâmica, grupos racializados como não-brancos são os principais alvos. Página Três, abordando uma família formada por três mulheres pretas, busca uma dinâmica interna familiar para criar um espaço de cuidado, assim como evoca a necessidade da educação para formar um ser social ativo, que se oriente no meio das possibilidades de enfrentamento, guiado tanto pela revolta quanto pelo carinho. De forma semelhante, Os Sonhos Guiam trás a relação de uma liderança Guaraní Mbyá com seu irmão falecido. É a coletividade que permanece mesmo depois de uma ausência. Outros signos surgem não para substituí-lo, mas para apontar a necessidade de plantar nas gerações futuras a possibilidade de uma mudança, reforçando a força interna de uma comunidade e também a abrindo para fora. Não posso deixar de pensar em como Bicicletas de Nhanderú (2011) ressoa aqui, também um filme Mbyá Guaraní mas filmado no Sul, onde as crianças são o elemento principal de uma transformação.
São aspectos que permeiam os filmes e vão nos guiando pelas imagens mesmo quando não sabemos onde vamos chegar, indicando uma face importante da produção universitária, escorada em uma descoberta do mundo, às vezes aos tropeços e outras aos saltos. O que importa é que haja movimento.